Fui lá pelos idos anos finais da década de 80 e lá não encontrei muita coisa. Devo ter conhecido alguns mulequinhos morenos, mas eu nasci em 87, não fica muita coisa na memória a não ser na afetiva, mas ainda assim gostei do que a memória afetiva me trouxe. Lembrar da minha vó quando ela ainda tinha as duas pernas não é tarefa simples para mim, pois ela amputou quando eu só tinha cinco anos. Lembrar minha vó Carlota com as duas pernas é quase um exercício de imaginação. É o que permite minha memória afetiva.
Entro nos anos 90 e continuo sem achar a lembrança do tal mulequinho. Nunca fui um cara muito popular na escola, nem na rua. Era uma criança com poucos amigos, mas por opção minha mesmo. Sempre muito certinho, acabava não concordando com muitas coisas que as crianças queriam fazer e acabava no meu canto. Para mim nunca foi problema, pois podia ficar lendo ou jogando videogame
Lembrei da época que fiz o C.A. na escola Recrearte,
Meu pensamento foi também na piscina do clube CSSVM, onde meu pai nos levava sempre. Lembro do dia que venci o medo e pulei do trampolim dando um mergulho de cabeça na água. Aquele dia me senti um cara que deu orgulho pro pai, mesmo por que meu irmão sempre foi mais corajoso e melhor nessas coisas radicais do que eu. Fiquei feliz de provar pra mim mesmo que podia ser igual a ele.
Bem, voltando ao menino, na piscina também não fiz amizades... não era um menino tímido, mas não ficava conversando com ninguém para não me sentir sozinho. Era adepto do antes só do que mal acompanhado. Até hoje sou assim.
Mas minha mãe não devia gostar muito disso, conversou comigo e achamos legal ir para uma aula de teatro. Foi realmente muito bom pra mim, pois lá aprendi a me expressar com meu corpo (por mais que não faça isso, eu aprendi) e a falar de maneira que muitas pessoas ouçam. Lembro bem de ver o sorriso no rosto da minha mãe enquanto eu atuava como Fred em "A moribunda" na apresentação de fim de ano.
Novamente não fiz amigos. Novamente não me fizeram falta. Novamente não achei o tal mulequinho nessa lembrança.
Tem muitas outras lembranças em que eu poderia explorar, porém elas seriam em casos que eu e as outras crianças seríamos bem maiores que o mulequinho cuja foto vi. Até mesmo quase todos os exemplos citados aqui já eram dessa forma.
Olhei a foto novamente, senti o mesmo sentimento, mas de uma forma diferente. Conectei-me a ela e descobri o motivo de não saber quem era o mulequinho. Eu nunca fui de olhar-me no espelho, ainda mais nessa época.