terça-feira, 3 de maio de 2011

A tragédia


Dez de Setembro de 2001. Por algum motivo já esquecido não tive aula no Colégio Estadual Professor José Accioli, em Marechal Hermes. Em casa, acompanho um episódio do desenho Dragon Ball Z, em que Goku se esforça para derrotar Majin Buu e assim salvar o planeta Terra mais uma vez. O desenho acaba quando a luta está próxima de um esperado fim, com Goku se preparando para dar o golpe final, o Henki Dama.

Onze de Setembro de 2001. Doido para ver o final do episódio, arranjo alguma desculpa também já esquecida para sair mais cedo do colégio e chegar em casa. Desci do 689 na rua Curitiba e estava indo a passos largos para casa quando percebi uma concentração incomum de pessoas no boteco que fica na metade da rua naquele horário. Fui dar uma espiada na televisão do boteco para ver se o desenho já tinha começado quando vejo um avião batendo em um prédio enorme. Pensei na hora de ser um acidente horrível, mas logo depois o Carlos Nascimento falou de se tratar de um atentado e que aquele já era o segundo avião. Fiquei em estado de choque! Aos meus 14 anos, vendo aquela cena, só conseguia pensar em terceira guerra.

Passei aquele dia vidrado nos acontecimentos. Toda declaração de líderes mundiais após começarem a colocar a culpa no Osama me davam um frio na espinha e um medo de uma guerra estourar, convocando o meu irmão e me convocando também, se durasse tempo suficiente. Fiquei com essa paranóia na cabeça por alguns dias ainda, catando tudo de informação que estivesse ao alcance. Na roda de amigos, no colégio, em qualquer lugar que tivesse um grupo de jovens da minha idade você veria o grupo de meninos que estavam com medo de estourar a guerra e o grupo de meninos que estavam alucinados com a ideia, mas com certeza não tinham parado ainda para pensar que eles poderiam ir guerrear e morrer.

De um dia para o outro, assuntos como extremismo islâmico, Al-Qaeda e alcorão estavam nas conversas como o resultado dos jogos de futebol do fim de semana. Por uma coincidência a Rede Globo começou a exibir no dia primeiro de Outubro a novela O Clone, que obteve grande sucesso perante a atmosfera islâmica que pairava no mundo todo. Roupas, costumes, danças, tudo ligado à cultura islâmica virou moda rapidamente no Brasil. Podia não ser ídolo, mas Osama contava até com a simpatia de muitos, devido a absurda antipatia gerada por Bush. Osama Bin Laden estava no topo do pop.

A chamada "Guerra ao Terror" começou intensa, com flashs ao vivo dos primeiros torpedos e bombas. Acompanhei tudo ainda com um pouco de medo da guerra. O tempo foi passando e Bin Laden não era achado. A imprensa aos poucos perdeu o interesse e pouco falou das tropas americanas que ainda estavam no Afeganistão durante todos esses anos. O noticiário só esquentou mesmo na época que pegaram Saddam Hussein, com o sucesso de ter terminado com uma ditadura sanguinária, mas também com um fracasso grande na premissa da invasão ao Iraque, não achando nenhuma das armas de destruição em massa.

Até que chegamos em 2011 e surge a notícia que Osama morreu. Imediatamente surgiram várias piadas nas redes sociais, como a que ele levou o título mundial de pique-esconde ou que ele era vascaíno e morreu por desgosto do time... Enfim, não estou aqui para celebrar a morte de ninguém, mas posso imaginar o que representa para as famílias e amigos dos mais de três mil mortos naquela manhã e tantos outros em outros atentados.

O problema é que a violência do atentado foi gerada muito antes, e ela gerou a violência da "Guerra ao Terror", que pode gerar outra violência vinda do Oriente. Violência gerando violência durante toda a história. Como dizia o profeta Gentileza, "Com amorrr e paz para um Brasil e um mundo melhor.... Meus filhos, não usem problemas"