terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Gringos Suburbanos

Vi em uma reportagem ano passado que estava crescendo cada vez mais na época do carnaval o turismo informal no Rio de Janeiro, ou seja, turistas que se hospedam na casa de pessoas comuns, que não representam hotéis, pousadas, albergues nem nada do tipo. O detalhe é que essas pessoas comuns moram na zona norte e zona oeste e os turistas (quase todos gringos e de países de clima frio) vão para os blocos de rua, rodas de samba em botecos, desfile das escolas do grupo de acesso no sambódromo... O grande barato é a curtição da festa como um típico cidadão carioca em uma realidade que simplesmente não existe nos lugares de onde são oriundos.

Os turistas que fazem essa escolha costumam ser jovens em boa condição financeira em busca de aventura, e acredito que seja exatamente isso que eles conseguem. Já imaginou você saindo de um lugar que não tem violência, não tem favelas, não tem gente sorridente e que se abraça por qualquer coisa e ir passar carnaval no subúrbio do Rio de Janeiro? Na minha cabeça deve ser uma aventura e tanto! Fico imaginando um finlandês na roda de samba em Madureira ou em um bloco qualquer na Lapa...


O que me deixou pensativo foi como será a exploração desse tipo de turismo nas comunidades pacificadas. Não é de hoje que você consegue "guias turísticos" para conhecer os comandos das favelas, mas isso acontece por baixo dos panos. O turismo nas comunidades pacificadas, a meu ver, pode tomar dois caminhos: o primeiro é o de prosperidade, com mais dinheiro circulando dentro da favela, motivando o comércio local e a criatividade do morador, que com certeza arranjaria um jeito de lucrar em cima disso. Com isso viriam melhoras fundamentais nas comunidades, a ponto de apresentar ao turista um lugar pobre, mas digno. Já imaginou pousadas e albergues cheias de turistas dentro das favelas?



Mas se o caminho escolhido for o segundo imaginado por mim, poderia ocorrer a valorização da miséria. Nesse caso não teria espaço para o turismo citado no início do tópico. O nosso querido finlandês viria para o Rio, conheceria a zona sul, os pontos turísticos tradicionais e de quebra conheceria a realidade dentro das comunidades, que mesmo pacificadas ainda sofrem com problemas sérios de infra-estrutura. Seria algo como "Conheça a pobreza com total segurança"! Patético, porém pelo menos na minha cabeça funciona bem. Lógico que pra isso acontecer teria que contar com a má vontade do poder público e com as olimpíadas e copa do mundo chegando pode ser que essa boa vontade brote. Torçamos!

Acredito que com o processo de pacificação nos morros a cidade vá receber ainda mais turistas do que o de costume na época carnavalesca desse ano. Que tenhamos finlandeses em Bento Ribeiro, noruegueses em Bangu, russos em Madureira, suecos em Santo Cristo...


Dica para o final de semana:
Mart'nália dia 07 no Circo Voador
Bangalafumenga dia 08 na Fundição Progresso
Peça "Mais respeito que sou tua mãe", com Claudia Jimenes (info em http://www.teatros.art.br/teatro-do-leblon-rj/mais-respeito-que-sou-tua-mae/)

2 comentários:

Marly disse...

Boa Matéria!
Beijos

Paulo Chagas disse...

O caminho escolhido só pode ser o da igualdade de tratamento dado aos locais hoje e ontem aquinhoados com o retorno dos impostos em serviços. Aos locais hoje e ontem abandonados pelo Poder Público resta lutar,e lutar muito para superarem-se com maestria e inventivas que os diferenciarão dos sempre aquinhoados. Farão o turista perceber o verdadeiro Carioca!